"Amor, se vier com carocinho de feijão é positivo?" |
Primeiro mundo é outra coisa!
Em Hollywood, ninguém come comida estragada, não existe má digestão, e todas as mulheres são vacinadas anualmente contra qualquer problema de estômago. O vômito por lá só tem uma função no organismo - servir como exame de gravidez.
Pelas bandas de lá, quando uma mulher vomita, é uma prova instantânea de que ela está grávida. Não é necessário fazer nenhum exame nem consultar um médico, o diagnóstico está feito. Só resta ir correndo felicitar o papai, ou, dependendo da história, se desesperar junto com o amante e se perguntar como isso pôde acontecer.
"Acertou a perna, lero lerooo!" |
Lá está o herói, valente e intrépido, trocando tiros com os malevolentes terroristas russos, ou o que está mais na moda, árabes. Depois de matar uns 15 deles, ele finalmente é atingido. Oh não, e agora?
Ah... foi só um tiro na perna. Ainda bem. Apesar de fazer uma leve expressão de dor, sujar as calças de sangue e mancar um pouquinho de vez em quando, isso não vai atrapalhar nosso implacável herói de detonar mais uns 45 árabes nos próximos minutos. Afinal, foi só um tiro na perna, não é como se tivesse alguma coisa de importante ali.
Quem se importa com o fato de que pela perna passa um emaranhado apertado de artérias importantes, ligadas diretamente a virtualmente o corpo inteiro, e que um tiro por ali sem a devida assistência provavelmente faria a pessoa sangrar até a morte? Essa coisa de realidade é tão sem graça....
"É só o braço esquerdo, não vai fazer falta mesmo!" |
Tá certo, o tiro na perna pode até sangrar pra caramba, mas isso não pode ser um impedimento para o nosso herói implacável continuar livrando o mundo dos inimigos da Liberdade!
Como todo bom Zé Fodão, a solução pra ele é simples. Basta arrancar a manga da camisa, improvisar um torniquete que o sangramento imediatamente pára, e ele já pode continuar a sua luta com os caras malvados.
Na vida real, infelizmente, a coisa não é tão maneira. Existe uma razão pela qual os torniquetes são usados apenas como último recurso: eles não cortam só a circulação na ferida, eles cortam toda a circulação do membro afetado. Só devem ser feitos quando o risco da morte por hemorragia é mais grave do que a probabilidade de perder o braço ou a perna por causa do torniquete. Usar um torniquete no mundo real não é um bom método para salvar o mundo, mas pode ser um bom atalho para uma cadeira de rodas.
"Sabe, isso me lembra Bouguereau...." |
Espelho, espelho meu, existe pessoa mais perfeita que um lunático assassino?
Em Hollywood, não. Na verdade, se na cidade tem um serial killer à solta, pode ter certeza: quanto mais horríveis e violentas forem as mortes das vítimas, mais gentil, delicado, culto e perspicaz será o assassino.
Uma morte lenta, assustadora e repugnante tem grandes chances de vir acompanhada por um comentário jocoso, uma expressão indiferente, a citação de um autor famoso e um bom vinho francês.
"Ufa, que bom que deu tempo!" |
Dessa vez, quem levou o tiro não foi o mocinho da história. Foi a sua amada, o seu parceiro, ou um figurante qualquer.
Qual o primeiro procedimento médico? Lógico, pegar o primeiro alicate ou faca de churrasco que estiver na frente, e começar a futricar no buraco até achar a bala. Rápido! Mais rápido!!!
Ao que parece, se o herói não conseguir tirar a bala a tempo, a vítima vai morrer. Provavelmente a bala não é só de metal, está irradiando alguma coisa ou liberando veneno dentro do corpo do paciente, e o risco de futricar na ferida e provocar uma hemorragia é menos perigoso do que deixar aquela coisa perigosíssima dentro da vítima.
"Rá! Knockdown!!" |
Você está enfrentando um cara malvado, mas tem alguma outra coisa mais urgente para fazer? Ou precisa deixar uma pessoa incapacitada para impedir que ela faça algo de ruim?
Seus problemas acabaram!
Em Hollywood, todo mundo é capaz de deixar uma pessoa desmaiada instantaneamente com um soco, uma coronhada, uma porretada ou qualquer coisa do tipo.
Aparentemente, após anos de treinamento na Academia Nacional de Pancadas e Pauladas, qualquer pessoa é capaz de discernir exatamente a intensidade necessária para o golpe, ele nunca é fraco o suficiente para deixar a pessoa apenas enfurecida, nem forte o suficiente para causar um traumatismo fatal - é sempre um golpe na medida exata para um desmaio.
"Quem sou eu? Onde estou?" |
Os personagens do cinema são ótimos em causar desmaios com uma cacetada bem preparada. Agora, se a pancada for causada por um acidente, o efeito é completamente diferente.
Como todo mundo sabe, cacetadas acidentais na cabeça não causam desmaios, e sim, amnésia.
Se tem alguma coisa importante para a trama, a chave de um mistério, a prova que soluciona um crime, ou um segredo oculto no passado, e você precisa manter escondida da memória do protagonista, não tem problema. Um acidente de carro, um escorregão na escada ou um penico voador são garantia de amnésia imediata!
"Levanta-te, e anda!" |
Essa cena é mais batida que carro de polícia em cena de perseguição.
A vítima tomou um tiro, teve uma parada cardíaca, ou foi atropelada, e está lá, mortinha, estirada no chão com o coração parado. A maquininha-de-fazer-pi-pi-pi, no dramático momento de climax, começa a assobiar e mostra uma linha reta, indicando que o coração parou. É hora do show!
"Tragam o desfibrilador", o médico grita, e depois de algumas tentativas dramáticas, finalmente o coração volta a bater, e tudo está bem de novo.
Infelizmente, na vida real, o desfibrilador tem esse nome por um motivo. Ele tem esse nome porque serve pra parar a fibrilação, que é quando o coração começa a bater em ritmos malucos. Para um coração que já parou, ele é tão útil quanto mostrar um sinal verde para um carro sem gasolina.
"Nããão... não quero morrer!" |
Não tem erro. Assim como o caso do vômito como sintoma de gravidez, em Hollywood não existem tosses provocadas por resfriados, alergias, ou nada do tipo. Se alguém tossir no meio do filme, pode chamar um padre para a extrema unção, essa pessoa está à beira da morte.
Você não precisa se preocupar muito se o doente tiver vários outros sintomas. Convulsões, inconsciência, delírios, ou dores terríveis, tudo isso é contornável. Mas se a pessoa tossir, pode começar a chorar. O fim está próximo.
"Eu te amo. Pronto, agora pode acordar. " |
Essa é a única conclusão que podemos chegar com algumas cenas.
Sabe quando a pessoa cai no chão desfalecida, o pulso não responde, o desfibrilador não funciona, primeiros socorros não adiantam, e nada mais parece ser capaz de salvar a vítima? É hora de apelar pras emoções.
Nessas horas, a melhor coisa a fazer é pegar a pessoa nos braços, e fazer uma calorosa declaração de amor, junto com uma frase do tipo: "Por favor não morra, minha vida não tem sentido sem você!" O nível de eficácia dessa técnica é impressionante. Se cair uma lágrima sua no rosto da vítima então, ressurreição garantida!
Aparentemente, ao ouvir essas delcarações a pessoa moribunda chega à conclusão que a vida vale a pena e desiste de morrer.
Fonte: Clichezando
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